«Retratos Imorais» por João Guizande

9 de outubro pelas 21h30

8 de outubro, 2021
Fruto de uma parceria com o encenador espanhol Moncho Rodriguez e o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito, o espetáculo foi criado em terras portuguesas “Quantas memórias ficcionais construímos e guardamos? Quantas hão de permanecer? Para quem as guardamos? Perguntas sem respostas. São como afirmações interrogativas para aumentar as dúvidas. Precisamos nos encher de dúvidas para criar em praias desertas marejadas por lembranças.”
As frases interrogativas e exclamativas acima foram ditas pelo encenador espanhol Moncho Rodriguez, que dirige o espetáculo solo Retratos Imorais, que traz o premiado ator baiano e minhoto de coração João Guisande, que há seis anos circula seus projetos e espetáculos entre Brasil e Portugal.

A montagem inspirada em dois contos do escritor cearense Ronaldo Correia de Brito - Mãe em Fuligem de Candeeiro e Mãe numa Ilha deserta – estreou em Agosto de 2018 no Teatro Sesi Rio Vermelho em Salvador Bahia, onde realizou 09 apresentações. Os dois monólogos de Ronaldo Correia de Brito trazem as personagens Edmundo e Marivaldo, que compartilham em cena uma solidão conhecida por muitos, moradores de ilhas desertas e paisagens de aglomerados.

Guisande conta que as personagens são totalmente opostas: “dois homens desconhecidos, diferentes, cada um com a sua história”. Os dois monólogos se unem num só espetáculo pelo fio invisível da poética nos avessos de duas almas, propositadamente abandonadas, no universo do absurdo da solidão humana. “Aos poucos, concluímos que existe algo de absurdo que os aproxima a solidão, a vontade de viver e de inventarem suas vidas”, pontua o intérprete, ao acrescentar que o espetáculo surge a partir de um encontro com o escritor e encenador no início de 2017, em Recife. Edmundo, personagem da primeira história, aceitou o “emprego” de faroleiro numa ilha depois de uma desilusão amorosa. Revive o drama da afetividade, da masculinidade, do ser ou não aceito. Edmundo tem por obrigação acender um farol que deve guiar navegantes desconhecidos. Põe luz nas trevas, tenta clarear o escuro de si mesmo e dos outros. São retratos de contradições, opostos inexplicados, resíduos de marés, tempestades e anoiteceres. Marivaldo, personagem da segunda história, é feminino. Tem a alma delicada tocada pelas memórias absurdas da mãe. Procura o seu encontro na pintura de retratos em fuligem de candeeiro. “Ambos são invenções, podem ser pressentidos ou imaginados. Ao elaborar seus retratos lhes roubamos a identidade ou os deixamos sem rostos. Reinventamos suas almas.

Partilhamos solidões preenchidas por vazios e imagens reinventadas em intervalos poéticos”, explica Rodriguez. Edmundo e Marivaldo fazem parte de duas histórias inventadas para dois homens que nunca existiram. Inexistentes, eles permanecem no imaginário de homens que sempre existiram. “Que eles possam ser reveladores. Nesse processo de revelação, a plateia também se revela. Fixados os retratos, eles se reproduzem em outras memórias e imaginários como se houvesse espaço para co-autores”, suscita Guisande. Os que assistem espreitam ou, simplesmente, se deixam seduzir pelas imagens reveladas. “Partilhamos solidões preenchidas por vazios e imagens reinventadas em intervalos poéticos. Devaneios. Buracos invisíveis da nossa imaginação. Nesses lugares obscuros estamos sozinhos, pelo avesso, no abandono do abandono”, realça Guisande. Um território abstrato que se estende no corpo físico do ator, nos seus músculos, na sua pele, no trilhão dos seus poros. O solo propõe um cenário de sombras e luz, vazio, limitado na fronteira do imaginário de cada espectador cujos horizontes são indicados nos gestos do ator/personagem, amplificados pela sensação marítima de uma ilha absolutamente deserta. Intercâmbio João Guisande é ator, formou-se em Artes Cênicas – Interpretação Teatral pela UFBA. Há seis anos circula entre Brasil e Portugal com seus espetáculos, desenvolvendo projetos (oficinas, montagens e residências artísticas). Entre os seus trabalhos pode-se destacar: Amnésis (Direção: Meran Vargens) no qual recebeu o prêmio de melhor ator no Festival de Blumenau-SC, Bululú (Direção: Moncho Rodriguez) premiado como Melhor ator no Prêmio Braskem de Teatro 2016, em 2018 criou os espetáculos Foi por esse Amor e Retratos Imorais voltando a ganhar o Premio Braskem de Teatro na categoria Melhor Ator. Em 2019 dirigiu o espetáculo Dois pesos, Duas medidas. Em 2020/2021 idealizou e dirigiu o projeto Memória do teatro da Bahia – Galeria Online.

Currículo do espetáculo: Retratos Imorais estreou no dia 03 de junho de 2018 na cidade de Fafe/Portugal em apresentação única na Escola de Bailado de Fafe. Fez sua temporada de estreia no Brasil em agosto e setembro de 2018 no Teatro Sesi Rio Vermelho em Salvador BA. Em novembro de 2018 esteve em Campina Grande PB em apresentação única celebrando o aniversário de 56 anos do Teatro Severino Cabral. Abril de 2019 fez curta temporada no Espaço cultural da Barroquinha em Salvador BA a convite da Fundação Gregório de Matos. Em maio de 2019 recebeu o Premio Braskem de Teatro na categoria Melhor Ator. Setembro de 2019 retornou a Portugal para uma circulação realizando apresentações nas cidades de Guimarães, Freixo de Espada á Cinta e Évora. Durante a pandemia integrou a programação do projeto “Na quarentena tem teatro” no mês de março e junho de 2020. Em abril de 2021 integrou a programação do festival online Solos em todos os Solos.